Bilhete-postal enviado por Rita Almeida

Como é habitual do típico estudante universitário, os bolsos das calças, infelizmente, não transbordam de dinheiro ou contêm barras de ouro. Mas sim, lenços com ranho, rebuçados, vestígios de tabaco, e o resto de um monte de porcarias que se vão acumulando lá.

Ora, esta história é sobre um grupo de amigos, que eram típicos universitários, falidos e loucos. E como bons estudantes não podem perder uma oportunidade para viajar, deixando os livros de lado e ensaios para escrever mais tarde.

Assim sendo, as férias de Carnaval não poderiam ser desperdiçadas, e enormes planos começaram-se a fazer. Não nos importávamos-mos de ir para bem longe de casa. Sonhámos com Holanda, Bélgica, ou mesmo com as Caraíbas. Mas devido ao baixo estrato bancário ao qual as nossas contas se encontravam, o único destino paradisíaco que poderíamos desfrutar seria a Ericeira. A terra dos surfistas, e do chinelo no pé.

Tendo todos os cêntimos contados, e mochilas às costas (cheias de enlatados) fizemos-mos à estrada. A viagem foi extremamente curta, visto que decidimos ficar em Mafra e seguir o resto do caminho a pé até à Ericeira. Que se pode dizer? Ideias de quem ainda é jovem, e nem sabe o que são dores de joelhos. Decididos a ser a nossa própria versão de Indiana Jones em grupo, iniciando as nossas férias calmas e maravilhosas.

O caminho até à Ericeira, ainda demorou algumas horas, principalmente devido aos vários momentos em que paramos para admirar o que nos rodeava ou para meter conversa com a população local. O que se tornava uma desculpa para tirar umas fotografias ou para um lanchinho. No entanto, acabamos por chegar à Ericeira, que era o nosso objetivo. Encarámos como um momento de glória, mas ainda havia caminho pela frente. Era necessário encontrar o sítio onde íamos pernoitar; o que significava largar as mochilas que já começavam a pesar.

Atendendo que ainda havia esse caminho para fazer, era necessário um novo desafio. Não bastava ter feito metade do caminho por nós mesmo, estes aventureiros queriam mais! Seguir pela estrada principalmente é para fraquinhos; por isso, decidiu-se que todos os caminhos de cabra reais ou imaginários da Ericeira nós íamos percorrer.

Pois bem, estes caminhos foram-nos levar até à foz do Rio Lizandro. O que até era uma boa noticia para nós, porque nós pretendíamos passar pela praia do Lizando, o único se não, é que a praia era do outro lado da margem. E agora? Voltávamos para trás ou atravessar o rio? Voltar para trás seria algo que o Indiana Jones não faria, por isso nós também não! Era tirar os ténis, fazer umas dobras nas pernas da calça e não hesitar. A nossa sorte foi que estava maré baixa, mas mesmo assim ninguém calculou que poderia haver fundões. E claro, que havia, porque se não houvesse isto não tinha piada.

Conseguimos chegar à outra margem, e aproveitamos para descansar na praia. Afirmo que éramos uns "croquetes de areia". As roupas e as mochilas estavam encharcadas e até areia havia atrás das orelhas, mas estávamos verdadeiramente felizes.

A nossa história podia terminar por aqui, e tínhamos um episódio engraçado para contar a todos os nossos amigos. Só que nós procurávamos uma verdadeira aventura. E a felicidade que sentimos deu-nos força para continuar. A travessia do rio era só o inicio de um grande fim-de-semana! A nossa missão de explorar todos os caminhos manhosos mantinha-se. E assim, corremos a Ericeira; saltando muros, arranhando as pernas em ervas daninhas… E como miúdos de 5 anos, e sem noção do perigo, percorremos as arribas. Houve um susto ou outro, mas o pior que aconteceu foi um joelho esfolado.
Neste fim-de-semana conseguiu acontecer de tudo. Conseguimos andar horas e horas à chuva. Depararmos-nos com uma tempestade; o que não foi nada agradável! Visto que, dormirmos em tendas e a tempestade fez com que uma árvore caísse em cima do carro (emprestado) que ia ser a nossa boleia de regresso a casa.

Uns dizem que somos azarentos, e não compreendem como é que adorámos aquele fim-de-semana. Nós sabemos que é este tipo de aventuras que queremos viver. Azarentos ou não, o que importa é mantermos um sorriso. E puder partilhá-lo com as pessoas que mais gostamos.

Aqui está a nossa história. Hoje vivemos aventuras na Ericeira e arredores, quem sabe se daqui a uns tempos nas Caraíbas ou, em Paris.