Bilhete-postal enviado por Sónia Santos

O lugar mais surreal que conheci foi a Lapónia! Porquê a Lapónia? É tão diferente de tudo o que eu alguma vez tinha visto...

Tudo começou com uma viagem interminável de táxi até ao Porto da Estónia onde apanhamos o ferryboat, que nos levou até à Finlândia à qual se seguiu uma viagem de 18 horas de autocarro rumo a Norte. O desconforto em todas as partes do corpo começa a valer a pena quando à tua frente não vês nada, se não branco. As casas, os altos pinheiros, os carros tudo coberto de neve, de uma forma em que, de todo, a Serra da Estrela não se assemelhava. Começava desde aí a sentir que a viagem prometia.

Tudo estava organizado para nos proporcionar o que de melhor aquele sítio tinha para nos dar, e quando digo tudo, é mesmo tudo. Não fosse o primeiro dia ter sido passado a conduzir trenós puxados por huskies, que pareciam ter uma energia inesgotável, no meio de um descampado coberto por um branco sem fim, onde no meio do nada, a única coisa que se ouvia era o silêncio, o latir dos cães e as gargalhadas de pessoas que, até há um mês desconhecidas, se viam a partilhar uma experiência daquelas...

Mas ir a Lapónia obriga a mais do que andar de husky, ora não fosse essa a terra do Pai Natal! Sim, não fui embora sem lhe puxar a barba e pedir que realizasse o meu grande grande desejo, não me ir embora daquela viagem sem ver uma aurora boreal. Sabia que era possível, mas também sabia que era preciso ter sorte, muita. E mais uma noite foi passada a olhar para o céu, enquanto corria em biquini para mergulhar no lago gelado após ter saído da sauna! Fui brava suficiente para o fazer cerca de duas vezes, não mais. Mas senti o sangue a ferver no meu corpo enquanto mergulhava. É uma sensação estranha, mas fez-me sentir viva! Poder experienciar a cultura de um povo com hábitos tão diferentes dos nossos é o que me deixa apaixonada por viajar...

Entre caminhadas a reservas naturais, aulas de ski e tardes de “sku” a viagem termina com uma jantar Natalício típico finlandês, visto estarmos em Dezembro. Com direito a Pai Natal e tudo. Ele ia explicando a comida, dizendo palhaçadas e criando interacções para que todos desfrutassem ao máximo da noite. E certo é que noites frias, pedem sempre o seu licor, para aquecer o corpo.

Era hora de começar a reunir nas salas comuns à espera de cansar o corpo para dormir toda a viagem de regresso. Contudo eis que a caminho do quarto para buscar o os mantimentos, começo a ver todos os colegas a correr, aos gritos, a apontar para o céu! Eram elas, as auroras, e aquele céu negro estrelado era rasgado por tons de verde! Não conseguia acreditar no que os meus olhos viam. Ao meu lado uns choravam, outros riam outros corriam. Corri também. Fomos até ao sítio mais perto e mais alto, e deitamo-nos lá sem nos importarmos com o frio ou com as roupas molhadas. Por momentos ninguém falou. Mas sei que todos sentimos. A vida é feita de experiências que vivem em memórias. Esta ninguém ma tira. Prometi a mim mesma voltar!