Bilhete-postal enviado por Alice Barcellos

Ah, os dias nublados! A luz difusa que não colore as coisas com a mesma intensidade dos dias de sol. O céu carregado, a ameaçar chuva. O vento que sopra mais frio. Há um lado belo nos dias nublados, há um certo mistério que chama por nós entre as nuvens. Conjugações naturais que encantam muitas pessoas... mas não a mim.

Consigo entender quem goste mais dos dias sem sol, mas é muito difícil conseguir sentir este sentimento de satisfação perante o tempo cinzento. Só se for para estar em casa, enrolado num cobertor, a ver filmes, dizem-me alguns. Ok, até posso abrir esta exceção, mas, ainda assim, prefiro fazer a mesma atividade num dia de sol. E então, quando num mês cheio, temos um fim de semana prolongado e resolvemos viajar para conhecer uma praia é imperativo estar sol. Mas a meteorologia já previa chuva...

O destino era as Ilhas Cíes, em Vigo. Um local já há muito cobiçado dentro dos planos de viagens, mas que ia ficando para trás, verão após verão. Este ano teve que ser. Mesmo com a meteorologia contra nós, pegamos no carro e seguimos para Vigo. No dia de partir para a ilha, o céu ainda amanheceu com alguns raios de sol, mas mal chegamos no cais de embarque, a chuva afirmou-se como um cenário previsível para as próximas horas.

Seguimos viagem, entre um mar que se mostrava em tons de cinzento, prata e preto, entre montes onde a neblina misturava-se com as nuvens carregadas. O vento estava frio e os casacos salvaram a viagem. Quando desembarcamos, conseguimos imaginar a beleza daquele local num dia soalheiro. De como a água ganharia tons de verde claro e azul. Mas este não era o dia e, por isso, caminhamos entre a areia e o mar pálido na esperança de uma aberta no céu. Não aconteceu, pelo contrário, foi ficando cada vez mais fechado.

Resolvemos regressar mais cedo (foi o melhor que fizemos porque a chuva veio mesmo e com força) e na viagem de regresso, num catamarã quase vazio, eis que avistamos ao longe barbatanas e caudas aos saltos naquele mar cinzento. Fomos brindados com a presença de um grupo de golfinhos. Tal como há quem fique encantado com dias nublados, eu fico encantada com estes animais marinhos. Há um mistério que me chama entre o seu nado ágil e a sua inteligência simpática.

Golfinhos em Vigo
créditos: Alice Barcellos

Assim, por acaso, ganhamos o dia. Ter aqueles minutos fugazes com golfinhos a nadar à volta do barco foi o que bastou para criar uma memória inesquecível. Fico a pensar para mim que se estivesse um dia de sol espetacular, não teria visto os golfinhos. Esta memória vai, de certeza, ajudar-me a olhar com outros olhos para os dias nublados.