Bilhete-postal enviado por Paulo Pinto

A meio da tarde de 27 de Janeiro de 2015, sob um calor intenso, eu estava entretido a fotografar o Monumento da Independência (Vimean Ekareach) quando um habitante local se aproximou de mim, fazendo-me uma estranha pergunta:

- Tu não me conheces?

Claro que a pergunta me intrigou e ele leu nos meus olhos a interrogação.

- Eu sou aquele que apareceu na National Geographic! - disse-me ele apontando para si mesmo de cima a baixo. - Os americanos vieram fazer uma reportagem sobre os "Khmers Vermelhos" e fui eu quem falou para a televisão. Sabes que tudo se passou quando em tinha apenas sete anos? A minha família desapareceu e eu vivi três anos no mato, alimentei-me de raízes e sementes.

Mostrou-me os dentes, no que eu pensava ser um sorriso. - É por isso que tenho os dentes todos tortos.

Enquanto falávamos, eu continuava a fotografar a longa avenida.

- Olha lá, tu não estás a fotografar Phnom Penh, a cidade não é isto. Anda daí que levo-te no meu tuk tuk.

Embora já tivesse feito um tour de bus, aceitei a sugestão. Visitamos recantos estranhos da cidade e confesso que em algumas ruas senti um ligeiro sentimento de insegurança. O mercado "russo", as igrejas de religiões estranhas abertas em vielas, a associação dos estropiados da guerra onde se produzem pequenas peças em metais preciosos com a boca ou com o que resta de um braço. No final do dia quando chegamos ao hotel, só pude agradecer ao meu guia inesperado que chorou quando o abracei.

- Obrigado pelo murro no estômago que foi a passagem pela associação dos mutilados.

- Agora já podes dizer que conheces Phnom Penh!

E chamou-me amigo.

Bilhete-postal no Camboja
créditos: Paulo Pinto

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