Levantado por uma grua a 20 metros da calçada, com o tubo de spray na mão, Kobra pulveriza o azul e depois o vermelho na gigantesca superfície de 3.000 m².

"É sem dúvida a maior pintura mural do mundo e no fim do trabalho deveria entrar no Guinness, o livro dos recordes", declarou o artista de 40 anos à AFP.

Neste grande mural, os cinco continentes estão representados por cinco grandes rostos, a figura dos anéis olímpicos: um karen da Birmânia e da Tailândia para Ásia, um huli da Papua-Nova Guiné para a Oceania, um índio tapajó da Amazônia para as Américas, um chukchi da Sibéria para a Europa e um mursi da Etiópia para a África.

maior mural do mundo

"Existe uma intolerância crescente no mundo, como na Europa, onde as pessoas rejeitam os refugiados, o diferente. Espero que este muro, no espírito dos Jogos, ajude a lembrar que somos todos diferentes, mas que no fundo somos todos um, a espécie humana", explicou.

Antes de começar a pintar a obra intitulada "Somos todos um", a equipa do artista esteve durante 15 dias a preparar a parede de uma velha marina: taparam buracos e pintaram a parede de branco para servir de tela para o desenho  multicolorido.

O muro escolhido é emblemático neste bairro central que foi revitalizado e onde chegam todos os cruzeiros turísticos, à beira da baía de Guanabara e por onde passa a nova via construída para os Jogos.

Não muito longe dali está o Museu do Amanhã, criado pelo arquiteto espanhol Santiago Calatrava, que surge como um símbolo da renovação da zona portuária para a maior festa desportiva mundial.

Há uma semana, todos os dias das 08H00 às 19H00, Kobra e a sua equipa pintam o muro com acrílico, verniz e sprays. O muro deverá ficar pronto muito em breve, no fim do mês, antes da abertura dos Jogos Olímpicos marcada para o dia cinco de agosto.

maior mural do mundo

Writer desde os 12 anos

"Já usámos 2.000 latas de spray e ainda vamos utilizar mais mil, cem barris de 200 litros de acrílico e cem barris de verniz", enumera Kobra.

O artista pinta desde os 12 anos, altura em que começou a escrever o seu nome com spray nos muros do seu bairro pobre, Campo Lindo, em São Paulo.

"A rua era a forma de socializar, de distrair-se e também de protestar contra a exclusão", contou.

"A única coisa que sei fazer é pintar. Sou auto-didata. Percebi que tinha uma certa habilidade pra isso, mas pintava sozinho e sofria preconceitos na minha família", disse Kobra, que hoje só pinta "com autorizações".

O convite para fazer este grande mural veio da diretora artística, Andrea Franco, do Bulevar Olímpico, a avenida onde fica situado o cais, com apoio da câmara do Rio, do Comité Rio-2016 e do Comité organizador dos Jogos.

Foi a partir de 2005 que o trabalho de Kobra ganhou renome a nível internacional. Kobra pintou a sua primeira obra no exterior "na cidade francesa de Lyon, o muro de um edifício".

Depois não parou mais. As pinturas do artista em murais gigantes e muito coloridas, que dão uma nova vida à história do lugar onde se encontram, estão presentes em várias cidades dos Estados Unidos, Polónia, Rússia, Suécia, México, Japão, Emirados Árabes e Taiti.

O mural do Rio terá uma vida média de seis anos, considerou Kobra.

E depois? "Não penso em restaurá-lo. Normalmente pinto algo por cima".