Depois de termos percorrido a estrada que serpenteia colina acima, deixando o Funchal para trás, entrámos na propriedade da Quinta do Palheiro, adquirida pela família Blandy, famosa pelo fabrico do Vinho da Madeira, em 1885. Percorremos então a estreita estrada empedrada que nos levou à recepção e ao edifício principal da Casa Velha do Palheiro, restaurada e inaugurada em 1997, e posteriormente ampliada em 1999, incluindo um reconhecido restaurante gourmet e uma ala de jardim, e, desde 2001, membro da prestigiada associação Relais & Châteaux.

Depois de cordialmente recebidos, e informados sobre as regras, serviços e actividades disponibilizadas no Palheiro Estate, fomos conduzidos à nossa suite no piso superior. Na porta, o nome do 1º Conde de Carvalhal, João Esmeraldo, que comprou a propriedade no início do século XIX e construiu aquela casa como pavilhão de caça e residência de Verão.

Lá dentro, a espaçosa suite exala uma aura do século XIX, com móveis muito bonitos e paredes decoradas com quadros a óleo e gravuras da Madeira. Pelas janelas, temos vista para os jardins do Palheiro, e para uma capela mandada construir pelo 1º Conde de Carvalhal, em estilo barroco simples, dedicada a São João Batista.

No mesmo piso onde estamos alojados, encontra-se outra suite, a suite Rei Dom Carlos, rei de Portugal, que ficou ali hospedado em 1901. No piso térreo, outra tem o nome do homem que comprou o terreno e os edifícios do Palheiro em 1885, John Burden Blandy. A história do edifício estava por todo o lado, e deixou-nos cativados. É uma história digna de fábula, repleta de realeza, nobreza, riqueza e infortúnio, fascinante e rica em pormenores que atraem a curiosidade daqueles que, como nós, ficam lá alojados.

O Conde, dono de muitas terras na ilha, vivia sem luxo e era um homem de princípios generosos e liberais. Aliás, durante as Guerras Miguelistas (1828-1834,), adepto do lado liberal do conflito, teve de buscar refúgio na Inglaterra em 1828, tendo só regressado à Madeira em 1834, recebendo o título e Conde de Carvalhal da Lombada e se tornado Governador Civil do Funchal. Como morreu solteiro em 1837, e não tinha descendente directo, o título e a propriedade foram passados para o seu sobrinho, o 2 º Conde, que tinha apenas 6 anos de idade na altura. Em comum com a história de muitas famílias portuguesas, o que uma geração criou e desenvolveu, outra esbanjou e dissipou.

O 2º Conde vivia uma vida extravagante em capitais europeias e viajava muito, dizendo-se que a sua opulência ensombrava até a do próprio rei de Portugal. Um séquito de acompanhantes e seguidores comungava do quotidiano do Conde: festas faustosas, bailes opulentos, corridas de cavalos, eventos desportivos e óperas. E muita desta acção também se desenrolava no Palheiro, onde ainda hoje sobrevive a memória de festas sumptuosas em que as mulheres eram convidadas usando como traje apenas jóias e sapatos de salto alto. Inevitavelmente, mesmo a extensa fortuna do Conde não foi suficiente para cobrir os custos de tal desregramento. As enormes dívidas e despesas fizeram com que o Conde fosse forçado a vender, sendo que a Quinta do Palheiro, propriedade remota do Funchal e já em estado de abandono, foi vendida em haste pública em 1885, e adquirida pela 3ª geração da família Blandy na Madeira.

Desde então, gerações sucessivas desta família geriram a transformação da propriedade, inicialmente dedicada à caça e actividades agrícolas, para o complexo actual que, especialmente desde os anos 90, se transformou num verdadeiro símbolo do sector do lazer e luxo na ilha da Madeira, o Palheiro Estate, renovados os Jardins, inaugurado o campo de golfe, restaurada a Casa do palheiro, construídos o Palheiro Village e o Palheiro Spa.

Tudo isto está ao seu dispor, podendo marcar a sua estadia aqui, numa experiência que, garantidamente, o fará sentir, ainda que momentaneamente, parte da nobreza portuguesa e o fará apreciar ainda mais uma estadia na maravilhosa e belíssima ilha da Madeira.